Antes um defensor do regime chavista do ditador Nicolás Maduro, o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP), candidato à Prefeitura de São Paulo, disse que “há indícios fortes de fraudes na eleição da Venezuela”. “Se permanecer um presidente que foi eleito numa eleição sem transparência, ele não é legítimo”, disse nesta quarta-feira, 20, em entrevista à CNN Brasil.
Questionado sobre já ter apoiado o regime chavista, Boulos justificou ao dizer que, quando se manifestou favoravelmente a Nicolás Maduro, o governo dele tinha sido reconhecido pelos Estados Unidos e pelo Brasil. “Esta eleição, que está sendo questionada por quase todos os governos do mundo, inclusive o brasileiro, é outra história. Há indícios fortes de fraude na eleição da Venezuela”, afirmou.
Boulos também comparou a ditadura na Venezuela aos ataques antidemocráticos do 8 de Janeiro de 2023, em Brasília, após a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. “Como não seria legítimo, no Brasil, Bolsonaro tentar dar um golpe e virar a mesa da eleição como ele tentou”, disse.
Sobre a nota do Partido dos Trabalhadores (PT), principal sigla apoiadora da sua candidatura do deputado, que reconheceu Nicolás Maduro como “presidente reeleito”, Boulos se recusou a comentar. Em outras ocasiões, o candidato já tinha dito que, independentemente do posicionamento, o PT sempre respeitou a democracia quando perdeu eleições.
O que Boulos já disse sobre a Venezuela
A falta de condenações ao regime chavista tem sido um “calcanhar de aquiles” para Boulos na campanha. Os adversários dele na corrida eleitoral criticam sua posição pró-ditadura comunista.
No debate da Band, no dia 9, José Luiz Datena (PSDB) sugeriu que Boulos fosse “prefeito em Caracas”, capital venezuelana. “Depois, quero saber se você é democrata, porque parece que não é, apoia Maduro e a ditadura na Venezuela. Você deveria ser prefeito em Caracas”, disse o apresentador.
Já no debate do Estadão, em parceria com o portal Terra e a Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), há uma semana, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), depois de ter sido questionado por sua relação com Bolsonaro, disse a Boulos: “Você podia falar sobre sua relação com Maduro”.
Em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira, 19, a candidata Tabata Amaral (PSB) afirmou que o candidato do Psol seria incapaz de condenar a ditadura de Maduro. “O Boulos não consegue condenar a ditadura na Venezuela, e eu nem acho que é por convicção própria, não sei, é porque ele é refém de um grupo sectário. É porque se ele tem uma posição que destoa um pouco da cartilha ideológica, ele não aguenta”, disse a adversária.
Em 7 de agosto, em entrevista ao portal g1, o psolista disse que a Venezuela “não era seu modelo de democracia”. “A Venezuela não é o meu modelo de democracia. Se ficar comprovado, e aí é preciso esse processo de transparência que nós estamos propondo e cobrando, se ficar comprovado que houve fraude nas eleições, se isso de fato se comprovar, e o governo que exerceu fraude permanecer no governo, aí você não vai ter mais lá uma democracia, definitivamente”, afirmou.
Todas as vezes que o assunto Venezuela foi tratado, em entrevistas ou questionamentos de concorrentes ao cargo de prefeito em debates, Boulos argumentou querer falar da capital paulista e ressaltou que “a Venezuela está a 4 mil quilômetros de São Paulo”.