Parte da direção da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva interferiu diretamente na investigação da Polícia Federal sobre o uso indevido de software de monitoramento de celulares.
“A direção atual da Abin realizou ações que interferiram no bom andamento da investigação”, afirmou a Polícia Federal no pedido de autorização para a operação realizada na quinta-feira 25, segundo reportagem publicada na edição desta sexta-feira, 26 da Folha de S.Paulo.
A corporação diz que houve “conluio de parte dos investigados com a atual alta gestão da Abin”. Um dos citados nominalmente é o número dois da agência, Alessandro Moretti, diretor-adjunto. Delegado da Polícia Federal, ele chegou ao cargo, em março de 2023, com a total confiança de Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin, indicado por Lula.
Segundo a PF, Moretti, em reunião com agentes investigados da Abin, afirmou que a apuração sobre o caso tinha “fundo político e iria passar”. Na petição ao STF, a corporação afirma que a conduta de Moretti não é a esperada de um delegado federal. “A reverberação das declarações da Direção da Abin, portanto, possui o condão de influir na liberdade e na percepção da gravidade dos fatos pelos investigados ao afirmar a existência de ‘fundo político’ aos investigados”, diz trecho reproduzido pela Folha.
A Polícia Federal também diz que “a revolta dos investigados com a progressão da investigação resultou nas seguintes ações com a atual Direção da Abin: ‘Construir uma estratégia em conjunto’, o ‘acordo para cuidar da parte interna’, bem como a ‘a DG [diretoria-geral] conseguiu convencer o pessoal que há apoio lá de cima’.”
A indicação de Moretti, que foi diretor da Secretaria de Segurança do Distrito Federal, de 2018 a 2021, no período do ex-secretário Anderson Torres, e diretor de Inteligência na PF no último ano do governo Bolsonaro, chegou a ser questionada no começo do ano passado.
Mas Corrêa, na sabatina do Senado, defendeu o diretor. Ele disse que, “gozando da confiança do presidente, jamais correria o risco de expor qualquer governo a uma situação no mínimo constrangedora de indicar alguém que não tivesse esse status para a posição que estamos indicando”.