Prestes a se filiar ao PL — principal partido de oposição ao governo Lula –, o vereador da cidade de São Paulo Fernando Holiday (sem partido) se diz arrependido da oposição que fez ao ex-presidente Jair Bolsonaro nos anos anteriores.
Ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), Holiday apoiou o ex-chefe do Executivo nas eleições de 2018, mas, dois anos depois, disse que se arrependeu. Ainda em 2020, o vereador saiu do MBL e se filiou ao partido Novo.
“O rompimento que aconteceu em 2020 foi por conta da saída do então ministro Sergio Moro do governo”, explicou Holiday em entrevista a Oeste. “Na época, Moro acusou Bolsonaro de interferir na Polícia Federal (PF). Contudo, todas as acusações que pesavam contra Bolsonaro se demonstraram falsas depois. Não havia nenhuma prova de tentativa de interferência na PF. Ao longo do tempo, percebi que o MBL e eu tínhamos tomado um caminho absolutamente equivocado.”
No pleito do ano passado, o vereador apoiou a chamada “terceira via”, com o candidato à presidência Felipe D’Ávila, na tentativa de derrotar Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva — atual presidente que saiu vencedor em 2022. No entanto, decidiu apoiar o ex-presidente no segundo turno por entender que ele seria a única opção contra a esquerda.
“No segundo turno das eleições de 2022, ficou muito claro para mim que não havia outro caminho, pois Bolsonaro era o maior líder da direita, por isso apoiei ele. Toda a direita deveria se unir em torno da liderança do Bolsonaro”, contou.
Vereador de segundo mandato, Fernando Holiday explicou a Oeste que não pretende disputar nenhum cargo nas eleições de 2024. Ele deve esperar o pleito de 2026 — quando tentará uma vaga na Câmara dos Deputados.
Historiador e professor de História, o jovem político ganhou notoriedade em 2015 ao liderar manifestações contra a então presidente Dilma Rousseff. Ele foi uma das lideranças políticas que protocolou o pedido de impeachment da petista.
A Oeste, Fernando Holiday comentou como atuará no PL, o que pensa sobre um eventual apoio do partido à reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), como foi seu encontro com Bolsonaro e muito mais. Confira os principais trechos da entrevista:
Na próxima semana, o senhor vai se filiar ao PL. Pretende disputar alguma vaga no pleito de 2024?
Meu plano é colaborar com o partido na reestruturação do PL J, que vai focar em criar candidatos jovens. Fui convidado pelo partido para participar desse grupo, colaborando com ideias de como atrair os jovens no meio universitário e nas escolas. Vamos oferecer ainda cursos para que esses jovens se preparem para atuar politicamente. Em 2024, não vou ser candidato. A ideia é apoiar o deputado estadual suplente Lucas Pavanato, comentarista da Jovem Pan. Ele vai me substituir na Câmara municipal. Contudo, não vou focar apenas na campanha dele, mas quero apoiar a candidatura de outros jovens que demonstrem algum potencial eleitoral. Em 2026, vou construir a minha candidatura a deputado federal.
Em 2020, o senhor disse que se arrependeu de ter apoiado o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. O que fez o senhor mudar de ideia em relação ao ex-presidente?
O rompimento que aconteceu em 2020 foi por conta da saída do então ministro Sergio Moro do governo. Na época, Moro acusou Bolsonaro de interferir na Polícia Federal. Contudo, todas as acusações que pesaram contra Bolsonaro se demonstraram falsas depois. Não havia nenhuma prova de tentativa de interferência na PF. Ao longo do tempo, percebi que o MBL e eu tínhamos tomado um caminho absolutamente equivocado. Saí do MBL, mas insisti no erro quando me filiei ao partido Novo com a tese da terceira via. Pensava que o melhor caminho para a sobrevivência da direita fosse um nome diferente do Bolsonaro. No segundo turno das eleições de 2022, ficou muito claro para mim que não havia outro caminho, pois Bolsonaro era o maior líder da direita, por isso apoiei ele no segundo turno de 2022. Toda a direita deveria se unir em torno da liderança do Bolsonaro, pois, quanto mais nos fragmentamos, mais força perdemos. Pedi desculpas publicamente a ele e, com isso, incentivo a outras pessoas a repensarem suas posições.
Como foi a conversa do senhor com o ex-presidente?
Encontrei com Bolsonaro apenas duas vezes. A primeira foi no segundo turno de 2022 e a recepção dele foi muito calorosa, ele me abraçou. Nós estivemos juntos durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e nas eleições de 2018. Em 2023, durante uma gravação do PL J, tive a oportunidade de sentar e conversar com ele. Expliquei que fui um dos “isentões”, mas que fui curado diante do cenário de 2022. Tinha apenas dois lados: o das ditaduras latino-americanas e o de quem sempre defendeu a completa liberdade de expressão, política e econômica. O nosso próximo encontro será na terça-feira 25, dia em que vou me filiar oficialmente ao PL.
O senhor não tem nenhum interesse em se candidatar à prefeitura?
Um dia, espero ser candidato, mas não agora. Nesse momento, o mais importante para a minha carreira é demonstrar ao público a minha correção de rumo. Mais do que buscar um cargo, preciso trabalhar para corrigir os meus erros do passado. A minha oposição ao Bolsonaro foi um erro muito grave e muito difícil de consertar, por isso não me sinto confortável em ser candidato agora. Prefiro fazer a correção de rumo fora de um cargo público.
Até o momento, tudo indica que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), vai ser o candidato do PL para a reeleição. Esse apoio vai dar certo?
Independentemente de quem seja o candidato da direita, é importante que ela esteja reunida em torno de um único nome. A fragmentação vai nos prejudicar imensamente. Cada candidatura vai ter um desafio particular. A dificuldade em ter um candidato “mais raiz”, como o deputado Ricardo Salles (PL-SP), é que a cidade de São Paulo demonstrou em 2022 que é mais progressista. Contudo, a dificuldade do Nunes é que ele é centro-direita até demais. Ele não tem posicionamentos mais à direita que são muito firmes e não é tão conhecido. Mas, independentemente de quem será o candidato da direita, haverá desafios. Convivi com o Ricardo Nunes quando ele ainda era vereador e ele foi um político muito atuante nas pautas consideradas conservadoras, como a ideologia de gênero. Ele passou a ter um posicionamento mais ao centro depois que assumiu a prefeitura, até mesmo por razões estratégicas. Não parece ser ruim ou impossível apoiar o Ricardo Nunes. Do ponto de vista da gestão da cidade de SP, ele produz um trabalho razoável. Precisaria apenas alinhar o discurso ideológico. Caso ele seja mesmo o candidato do PL, é importante ter um vice-prefeito claramente alinhado aos ideais de direita mais “raiz” para auxiliar no debate, principalmente contra o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP), principal adversário.
Como o plano de governo do Ricardo Nunes, ao lado do PL, deve tratar a cracolândia?
Há um desafio muito grande para o Ricardo Nunes. A política pública que ele escolheu é a correta, mas demora para dar resultado: a internação compulsória. O viciado que está na rua é um perigo para si próprio e para o cidadão comum. O problema é que o Ministério Público cria diversas barreiras para que essas prisões aconteçam. Desse modo, elas acontecem aos poucos. Muitas vezes, cada uma dessas internações gera disputas judiciais. No entanto, a opção que o Boulos vai trazer é uma vantagem para o Nunes. O Boulos considera que é direito dessas pessoas continuarem nas ruas e que a internação compulsória seria uma tortura. Desse modo, o caminho do Ricardo Nunes fica infinitamente melhor.
O senhor fala muito sobre a influência de Bolsonaro no Brasil. Como ficará a direita agora que ele está inelegível?
Para a direita, seria melhor que Bolsonaro ficasse elegível, por ele conseguiu personificar o sentimento e as ideias da direita como nenhum outro candidato. Mas o sentimento de que ele é um candidato perseguido, por ser de direita e conservador, cresceu imensamente depois que ele se tornou inelegível — por uma razão boba, não fazia nenhum sentido. Esse sentimento de injustiça vai potencializar o candidato à presidência de Bolsonaro. Em 2026, aquele que tiver o apoio dele vai ter uma força enorme. Não acho que esse nome seja o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pois colocaríamos em risco a reeleição dele em São Paulo. Mas temos a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), a senadora Tereza Cristina (PP-MS) entre outros.